domingo, janeiro 02, 2005

Tanto Tempo

O tempo eventualmente há-de cessar, todas as coisas viradas ao contrário no seu sentido lógico e nós aqui, os mares violentamente a subir os rios, enchendo os leitos e percorrendo o caminho de volta à infância...Tal como tu e eu, cada um do seu lado da estrada, aquela que às vezes está tão vazia e desprovida barulho, quando de repente se enche e eu tento ver-te do outro lado, com aquele teu sorriso simples a acenar-me com uma mão e na outra um gelado...qualquer um. Caminhamos lado a lado para um sítio qualquer e tu vais gritando que me adoras, eu vou sorrindo deste lado e a certa altura, perco-te no meio da multidão que te envolve, quase que só vejo o teu braço a dizer-me adeus e despeço-me de ti olhando o teu braço, aconchego as lágrimas junto ao coração para que se aqueçam com o sentimento que daí transborda.
Há-de haver um dia que eu sei que não te vou ver naquela estrada, em que tu não vais mais aparecer com o teu ar de menina e eu hei-de perceber nesse momento, que tu também eras influenciada pelo tempo, que provavelmente o teu mar correu noutra direcção, de volta às origens sem que eu pudesse pelo menos saltar, tentar impedir-te de caminhares noutra direcção...Ficarei sempre à espera naquela estrada, que um dia no meio dos carros a buzinar, das pessoas irritadas e dos corpos que passam e não ficam, eu consiga ver as tuas mãos a dizer-me olá e segurando um gelado derretido, com a tua cara triste e dizendo:"porque demoraste tanto tempo?"...